terça-feira, 30 de junho de 2009

RELACIONAMENTO À DISTANCIA PODE CAUSAR DEPENDENCIA

Há quem acredite que a internet aproxima pessoas. Por isso, uma boa relação online aumentaria as chances de o namoro à distância dar certo. A estudante de medicina Lilian Köller, que mora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, namora há 1 ano e 9 meses. Foram três meses de conversa via internet antes de começar o relacionamento com o então recém-graduado em medicina Lênin Rodrigues, que morava em Itaqui, Rio Grande do Sul. Estavam a quase 1.500 quilômetros de distância um do outro.

Lênin e Lilian se conheceram pela internet. Foto: Lilian Köller

Antes de aprofundar sua relação com Lênin, Lilian tomou atitudes simples para ter certeza da sua escolha. “Eu perguntei a respeito dele para o meu primo, e também para uma amiga minha que o conhecia. E ele [fez] a mesma coisa. Perguntou sobre mim tanto pra esse meu primo, quanto pra um primo dele que mora aqui e me conhecia”, lembra. Lênin, então, foi visitá-la em Campo Grande e oficializaram a relação. Nesta época, o jovem faria provas na tentativa de ingressar em um curso de pós-graduação. Um dos lugares escolhidos para a possível especialização foi Campo Grande. Lênin conquistou sua vaga e mudou-se para a cidade da namorada onde conclui, no final desse ano, sua especialização em Cirurgia Geral.

Porém, nem todas as histórias terminam assim. O universitário Ariel Cahen, 21 anos, conta como conheceu sua ex-namorada. No ano de 2004 ele foi convidado para gravar um vídeo para o site oficial de uma famosa banda de rock dos Estados Unidos. Vários pequenos programas foram feitos com fãs do grupo de todo o mundo. Cahen foi escolhido para participar no Brasil. Ela assistiu ao vídeo e buscou um meio de estabelecer contato com ele. E conseguiu. Os dois desenvolveram amizade através da internet e decidiram se conhecer pessoalmente cerca de quatro meses depois. O namoro começou após quase dois anos desde que se encontraram pela primeira vez. E, mesmo à distância, mantiveram o relacionamento durante pouco mais de dois anos.

Cahen lembra que eles conversavam diariamente pela internet ou por telefone e se encontravam de duas a três vezes por mês. Entretanto, o excesso de cobranças e controle, que acabava gerando discussões, tornou a relação difícil e desgastante. “A princípio conseguimos manter a relação, até que esses problemas a tornaram impraticável.” E o universitário acredita que essa insegurança foi motivada pela distância. “Por maior que seja a proximidade que a internet proporciona, não dá pra saber tudo o que acontece a 100 quilômetros de distância. É preciso muita confiança, segurança, autocontrole e vontade de estar junto, senão complica.”

Porém, para o professor de Comunicação da PUC-SP, Eugênio Trivinho, quando o assunto é relacionamento à distância, é preciso levar em conta outros fatores. Segundo ele, quando existe comunicação frequente através da internet, as chances de os envolvidos se tornarem dependentes um do outro ou da tecnologia aumentam.

Essa possibilidade aumentaria porque sem contato presencial constante, a relação estará embasada, unicamente, no contato virtual. Desenvolver o relacionamento tendo como base a tecnologia aumenta, por sua vez, a chance dos envolvidos se tornarem dependendes da.

Mesmo sem dependência tecnológica, pode haver outras conseqüências. Para o professor, todo ser humano tem o contato físico como necessidade básica. Se o indivíduo não tiver essa necessidade satisfeita, ela pode se aprofundar e se tornar uma “carência afetiva”. “Se minha vida é carente e há uma pessoa que me satisfaz, satisfaz minhas carências, minha tendência é fechar nessa pessoa”, explica. Daí a dependência excessiva do companheiro.

Para o professor, o namoro à distância pode dar certo, vai depender somente da disposição dos envolvidos para o relacionamento. Considerando esse aspecto, Trivinho afirma que não se pode fazer generalizações nesses casos, uma vez que as pessoas são diferentes em seus gostos e personalidade. “Às vezes o relacionamento de uma pessoa A com uma pessoa B satisfaz os dois. Mas a pessoa A com uma K pode ser muito diferente. Tudo vai depender da qualidade da relação ao suprir as necessidades de cada um. Quando um indivíduo consegue aproveitar oportunidades que satisfaçam o outro e consegue, também, encontrar situações que o suprem, aí há saúde na relação e ela sobrevive”.

Liana Feitosa

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